Maria Sueli Rodrigues de Sousa tem uma trajetória de vida admirável. Nasceu na comunidade Saco da Ema, em Francinópolis, sertão do Piauí. Mulher negra, nordestina, agricultora que resistiu à seca. O acesso à educação, que é um direito conferido as/os brasileiras/os, para ela foi um desafio. Precisou trabalhar como doméstica aos 7 anos e morar de favor na residência de uma família para poder estudar e se tornar professora. Esses fatos ela contava com orgulho: “Minha história não é única, ela tem muito em comum com a sua e com a de muitos piauienses de origem humilde e sem oportunidades”.
Bravamente chegou ao ensino superior, graduou-se em Ciências Sociais e Direito. Como servidora pública, deu uma contribuição valorosa à Ufpi através da docência no Departamento de Ciências Jurídicas, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia, no Programa de Pós Graduação em Gestão Pública e como pesquisadora do Núcleo de Pesquisa sobre Africanidades e Afrodescendência – IFARADÁ e do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos e Cidadania – DiHuCi.
Fora da universidade ela também teve uma atuação importante no movimento negro, de mulheres e do campo. Comprometeu-se com a promoção da igualdade gênero, o respeito à diversidade étnico racial, religiosa e sexual. Assumiu a luta pela terra e pelo território dos povos e comunidades tradicionais e o direitos da classe trabalhadora. Em síntese, dedicou sua vida a defesa das populações em vulnerabilidades e a inclusão das minorias.
A esfera política foi outra área de intensa atuação. Corajosamente sempre fez a crítica ao sistema capitalista e as elites dominantes, que são responsáveis pelo empobrecimento e desigualdades sociais em nosso país. Convicções bem definidas a fizeram percorrer o caminho da filiação partidária e a levaram a ser candidata à governadora do Piauí e vereadora pelo PSOL.
Sueli empreendeu muitas lutas. Foi portadora de múltiplas identidades; contudo, a docência foi a que mais despontou: “Professora Sueli”, assim ela era conhecida e reconhecida e desta forma ela se apresentava. Isso não é por acaso, é uma decorrência de sua trajetória no magistério. Uma educadora exemplar, que soube mostrar a grandiosidade do que significa ser professora: um oficio imprescindível para a construção de toda e qualquer sociedade.
Alguns povos e comunidades tradicionais acreditam que algumas pessoas permanecem vivas para sempre. A morte para elas é apenas uma passagem para outra dimensão, para o mundo da encantaria. Desta forma, elas se encantam e continuam habitando esse mundo de outra forma. Assim será nossa a nossa querida Sueli, que continuará viva na lembranças dos discentes e docentes da UFPI, dos familiares e amigos que conquistou nos espaços em que trabalhou.
A ADUFPI sente orgulho de ter contado com a atuação de Sueli como associada. Nesta sessão sindical, ela desempenhou bravamente a militância sindical e soube ser uma parceira de grande valor na luta que travamos em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. Ela continuará conosco nesse embate, que vem se agravando face aos ataques às universidades, ao desmantelamento da política educacional e as agressões à democracia em nosso país.
Neste dia em que a mãe terra receberá o corpo de Sueli, sentimos tristeza e temos certeza que experimentaremos muita saudade todos os dias. Além disso, em nossos corações há muita gratidão pelas ações realizadas neste mundo e por tudo o que ela continuará sendo em nossas vidas. São muitas as lições que a existência de Sueli nos oferece. A lembrança de cada ensinamento deve nos motivar para a construção de um mundo melhor para nós e para as gerações futuras.
Querida professora Sueli, a ADUFPI diz obrigada! Sueli presente sempre!