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MOMENTO HISTÓRICO: ADUFPI e MIQCB celebram a titulação do primeiro território tradicional de Quebradeiras de Coco Babaçu no Brasil

Na manhã desta quinta-feira, 31 de março de 2022, o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB recebeu o primeiro Título Coletivo de Território para Quebradeiras de Coco no Brasil. Foram mais de 30 anos de lutas pela outorga desses territórios que hoje, historicamente, têm seu direito à propriedade reconhecido e legalizado para execução e continuidade de suas atividades tradicionais. A ADUFPI também celebra este fato, por entender que o direito ao território, o acesso à cultura e o livre exercício de suas atividades deve ser devidamente reconhecido, e por que não, comemorado. O Território Tradicional De Quebradeiras De Coco Babaçu Vila Esperança tem sua composição 67 famílias ao qual se somam em torno de 2.013 pessoas. Já a área do território tradicional a ser titulada coletivamente é de 1.219,485 hectares e os municípios parcialmente abrangidos são Esperantina, Campo Largo do Piauí e São João do Arraial

A Professora e Diretora de Relações Sindicais da ADUFPI, Carmen Lúcia Silva Lima, que também assessora e acompanha a luta das quebradeiras, já realizou uma série de trabalhos com Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB pelo Laboratório do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia /UFPI, da qual a mesma coordena. A Professora Carmen ressalta que “ este trabalho denominado de nova cartografia social, ou seja, as comunidades produzem os mapas para representar a sua cultura, identidade, os conflitos que vivenciam e apresentam suas demandas. As quebradeiras de coco babaçu, em parceria com Projeto Nova Cartografia Social, fizeram o mapeamento dos babaçuais no Piauí para reivindicar direitos e a demarcação de seus territórios, que são os babaçuais”.

A simpática Dona Zilda, mais experiente das quebradeiras de coco, durante a solenidade enfatizou que se sente muito feliz por conta desse título. Durante sua jornada de vida, ela nos conta histórias de luta e determinação. Conta que já foi presa e até jurada de morte por defender o direito aos territórios. “ Sou a mais velha do grupo, e hoje, tenho nas minhas mãos um título fruto de uma história muito sofrida por estes territórios. Estamos aqui para mostrar que estes 30 anos de luta valeram a pena”.

O defensor público federal Benoni Moreira ressalta que esta é uma luta de muitas anos para ter acesso aos babaçuais, pois, durante muitos anos os proprietários dos territórios onde se encontram esses babaçuais negaram às quebradeiras o acesso para coleta dos frutos, então, a partir do momento em que o território é titulado em favor das quebradeiras de coco, essa dificuldade de acesso ao território (agora titulado) não mais existirá, e desta forma, elas poderão exercer suas atividades tradicionais, de geração após geração, sem a dificuldade de outrora.

Já para Dona Helena, uma das coordenadoras do movimento, este título representa uma das muitas vitórias que ainda estão por vir: Temos mais de 30 anos de luta por este título e este território, e na data de hoje, faço a reflexão que tudo na vida tem um propósito, e diante das incertezas, não sabemos o que pode acontecer, mas chegou um momento em que disse para mim mesma que passaria por tudo o que passei de novo. Estamos felizes, trouxemos toda a comunidade para esta solenidade. Esta é apenas uma das vitórias, pois, queremos mais vitórias. Uma vez quebradeira, sempre quebradeira”

Dona Chica Lera, autora do livro A história dos movimentos sociais e a luta das Quebradeiras de coco babaçu no Piauí, destaca que “as mulheres quebradeiras são fortes e não desistem do que querem por medo ou intimidação. Hoje só mostra o quanto lutar sem receio foi crucial para a conquista deste título”.

As quebradeiras de coco babaçu do Piauí, são símbolo de resistência, cultura, tradição e ancestralidade. Este é um importante passo rumo à democratização dos territórios que garantem a legalidade do exercício das quebradeiras em território s que agora são suas por direito, representando também sua fonte de renda, cultura e o empoderamento das mulheres quebradeiras de coco no Piauí.

Para conferir os trabalhos realizados com as Quebradeiras de Coco produzidos pelo Laboratório do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia /UFPI, como o MAPA – Nova Cartografia Social dos Babaçuais, o Livro de dona Chica Lera e o Boletim Informativo – Nova Cartografia Social dos Babaçuais: Povos do Cerrado em defesa de seus territórios e contra a devastação causada pelo agronegócio no Piauí, clique nos links abaixo e tenha acesso aos materiais.