Para onde vai o sindicato quando as disputas passam a se apoiar em fake news, truculência e misoginia?
É curioso — e, sobretudo, triste — perceber que, para determinados grupos, ouvir a assembleia e acolher o que a base delibera é interpretado como sinal de fraqueza da diretoria. Trata-se de um erro elementar de compreensão sobre o que significa o processo democrático nos espaços sindicais.
Talvez isso ocorra porque, para esses grupos, a democracia não passa de um artifício retórico e estratégico. Não surpreende: muitos de seus integrantes estiveram formal ou informalmente alinhados à gestão interventora, mantendo relações de apoio e troca dentro e fora da universidade.
Mais grave e contraditório — como é típico desse tipo de prática — é que esses grupos têm utilizado uma retórica que distorce a realidade, trazendo para dentro do sindicato uma disputa artificiosa. Ora tentam confundir sindicato com gestão universitária, ora transformam qualquer derrota eleitoral em justificativa para desqualificar a entidade. Quando o grupo ligado à intervenção fracassa em sua tentativa de golpe eleitoral e a via democrática prevalece, passa imediatamente a difundir o discurso de que o sindicato se tornou “extensão” da gestão.
Convém lembrar o óbvio: não foi esta diretoria que esteve alinhada à antiga gestão interventora. Pelo contrário.
É necessário, inclusive, recordar que a intervenção na UFPI não ocorreu em um vácuo político. Ela foi consequência direta de um projeto autoritário conduzido nacionalmente durante o governo Bolsonaro e sustentado localmente por setores que hoje tentam se apresentar como guardiões da democracia sindical. O mesmo grupo que agora acusa o sindicato de “subserviência” foi, na prática, defensor e beneficiário da lógica interventora que feriu a autonomia universitária, desrespeitou a vontade da comunidade acadêmica e alinhou a instituição a práticas centralizadoras e antidemocráticas.Essa contradição histórica explica muito das estratégias atuais: quem normalizou a intervenção tenta agora normalizar também a distorção dos processos sindicais.
Essa tentativa de desqualificação, cabe destacar, é atravessada por misoginia. Segundo esses grupos, haveria “silêncio”, “inação” ou “subserviência” da atual diretoria — composta majoritariamente por mulheres — em relação à gestão universitária e a diretorias passadas. Não há nada mais misógino do que atacar mulheres imputando-lhes subserviência como forma de deslegitimar sua atuação política.
Também chama atenção que muitos dos que bradam por “luta sindical” raramente participam das lutas concretas. Preferem recorrer a retóricas escandalosas para tentar convencer aqueles que não acompanham de perto a rotina do sindicato. Basta ir a uma assembleia para constatar o que aqui se afirma.
Mais espantoso ainda: o mesmo grupo que se declara defensor da igualdade, inclusão e diversidade votou em massa, na última Assembleia Geral, contra a distribuição equitativa de vagas entre homens e mulheres na delegação ao Congresso do ANDES. Quando tiveram a oportunidade real de ampliar a participação feminina, escolheram manter o privilégio masculino. E, para agravar, recorreram à retórica persecutória — incluindo gravação não autorizada — para tentar imputar à direção um desvio que, na verdade, foi decisão soberana da assembleia. Nada mais típico de práticas autoritárias alinhadas à lógica da direita, em nítida contradição com o que orienta nosso sindicato nacional.
Triste e profundamente contraditório é observar que muitos que hoje agem dessa forma afirmam seguir as diretrizes do sindicato nacional, mas na prática contribuem para fragilizá-lo, aproximando-se de setores historicamente afinados às práticas mais conservadoras e antidemocráticas.
Disputas são saudáveis para a democracia sindical. Entretanto, quando se reduzem a um embate cru pelo poder — poder pelo poder — com o objetivo de preservar privilégios herdados do período interventor, e quando esse embate é alimentado por distorções, violências e atitudes persecutórias — como filmagens clandestinas, desrespeito aos ritos construídos pelo nosso sindicato nacional e circulação sistemática de mentiras —, o que está em jogo já não é o fortalecimento da entidade: é o projeto de capturá-la.
Nosso sindicato não pode ser refém dessas práticas. A defesa da democracia sindical exige coragem, firmeza e compromisso ético — princípios que não podem ser sacrificados diante da retórica autoritária de grupos que, ao perderem espaço democrático, tentam recuperar no grito aquilo que não conquistaram pelo voto.
Diretoria da ADUFPI.





