Confira o que diz o Professor Emídio Matos, Conselheiro Estadual de Saúde do estado do Piauí e associado da ADUFPI
Com o retorno presencial de atividades na UFPI após dois anos de ensino remoto, a universidade agora retoma seu cotidiano “normal” com muitas questões e desafios a serem vencidos quando falamos da pandemia de Covid-19. Nesses últimos tempos, uma questão perdurou nas discussões da comunidade acadêmica: Devemos ou não retornar agora?
Do ponto de vista dos estudantes, há dificuldades de acesso, permanência e assistência estudantil, fora as questões que envolvem o transporte público. Já para técnicos administrativos e terceirizados, por estarem quase constantemente em salas fechadas ou em contato direto com o público em geral, essas situações evidenciam um risco maior de contaminação. E para a categoria docente, as condições de trabalho e ensino, os cortes de verbas para pesquisa, ciência e educação, além das contenções orçamentárias, preocupa e compromete fortemente a qualidade do ensino nas instituições de ensino superior.
Apesar de tantas margens para reflexão, vamos nos atentar ao que diz a ciência e os especialistas em saúde da universidade sobre este momento escolhido para o retorno e suas implicações na condução do período letivo que começou recentemente. Em entrevista para os meios de comunicação da ADUFPI, o Professor e Conselheiro Estadual de Saúde do Piauí, Emídio Matos, respondeu muitas lacunas no que se refere à pauta do retorno presencial de atividades.
Estamos prontos para um retorno presencial?
“Estamos numa situação na qual é possível fazer esse retorno presencial do ponto de vista epidemiológico, só que quando nós falamos em pandemia não podemos olhar apenas para dados epidemiológicos, mas também, para as questões sanitárias (…) e essas questões sanitárias, se pudermos fazer uma divisão, elas são individuais e coletivas. De forma individual, são ações que dependem de cada um de nós, e as coletivas são aquelas que institucionalmente nos preparam para este retorno. E do ponto de vista institucional, há um caminho dado, porém,ainda há pontos obscuros, que poderiam estar melhor desenhados para que cada membro da universidade saiba exatamente o que fazer em casos suspeitos ou confirmados de Covid-19, então neste sentido, não está muito claro para a comunidade acadêmica. É preciso que todos saibam o que fazer em casos de emergência. Há um consenso de que precisamos voltar, e há outro consenso de que nós não queremos ter que suspender as aulas.
Como faremos para que as aulas não sejam suspensas?
Seguindo os protocolos. Não há outro caminho, senão, seguir os protocolos, mas para isso cada um precisa saber sobre seu papel. Cabe a gestão superior um papel maior em fazer essa sugestão, em orientar. A ADUFPI tem apontado caminhos e sugestões. Precisamos ter bem definidas essas medidas de segurança a serem tomadas, pois é a vida das pessoas que estão em jogo.
Em termos práticos, quais medidas a Universidade deve garantir para que este retorno ocorra de forma segura?
O certificado vacinal é a principal medida. Mas mesmo aí, os protocolos da Universidade dizem que é preciso apresentar esse documento, mas não dizem, por exemplo, como os (as) chefes de departamento ou coordenações devem agir caso alguém se recuse a apresentar a certificação. Fica um vácuo nesse sentido, pois não há clareza de orientações. Além do certificado vacinal, as doses precisam estar atualizadas, para todas as pessoas, no mínimo 3 doses, e para pessoas acima de 40 anos, 4 doses. Há ainda as medidas não farmacológicas, ou seja uso correto de máscaras cobrindo nariz e boca, preferencialmente máscaras cirúrgicas ou n95, além disso o distanciamento, sinalização eficiente, higienização frequente das mãos. Não basta termos dispensers de álcool espalhados da UFPI se não há álcool neles. Penso que devemos melhorar a comunicação, pois todos precisam saber o que fazer. Portanto, precisamos aprimorar estas medidas para que não precisemos suspender as aulas neste momento.
Há um risco de termos um surto de contaminação local na UFPI?E como evitar?
O risco é concreto! A taxa de positividade dos exames RT-PCR no Piauí, está acima de 5%, o que segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, isso significa que nós não temos uma pandemia sob controle. Existe um risco que nós consideramos muito pouco, mas deveríamos considerar mais no que se refere ao deslocamento de pessoas para dentro e fora das dependências da UFPI. Mas aí há uma diferença, estando vacinado, o risco de adoecimento grave é menor, embora a transmissão do vírus ainda seja possível. Precisamos entender que todos estamos em algum grau adoecidos mentalmente, o acolhimento e a escuta são necessários. Devemos compreender que há pessoas que estão com mais receios do que outras, por isso estão adoecidas nesse sentido mais que outros, pois o adoecimento mental, segundo mostra a literatura, é uma sequela da Covid-19, e institucionalmente precisamos apontar esse caminho como solução.
As recomendações propostas pela UFPI são suficientes para garantir esse retorno presencial?
Temos detalhes que são importantes e que nos protocolos da Universidade deveriam ter mais clareza, neste sentido precisamos aprimorar alguns pontos que já deveriam constar nos protocolos da UFPI. O (Centro de Ciências Humanas e Letras) CCHL está nos apontando um caminho e nos mostrando que é possível fazer esse retorno seguro, pois se um centro com limitação orçamentária pode fazer, isso significa que a instituição como um todo também pode fazer. Por exemplo, algo muito simples que foi feito mas que tem um resultado muito importante, é o fato de ter um posto de vacinação no interior centro. Foi feito um parceria com a Fundação Municipal de Saúde, e lá está ocorrendo a vacinação. Isso passa a mensagem de que estamos buscando garantir a segurança e fazendo uma comunicação mais efetiva tanto nas redes sociais quanto nos posicionamentos de chefes e docentes do centro. Se pudermos aprender com o que o CCHL está fazendo, com certeza teremos um retorno mais seguro.
Todos os cenários demonstram que serão necessários esforços maiores e mais eficientes por parte da Administração Superior no que se refere ao zelo requerido para que tudo ocorra em segurança nesta etapa de retomada. O retorno presencial de atividades, é um anseio de toda comunidade acadêmica visto todas as dificuldades estruturais que o ensino remoto trouxe, agravando ainda mais o quadro de desigualdades sociais e de inserção nos meios digitais.
A ADUFPI, corrobora que é a favor do retorno presencial e irá manter-se ativa na fiscalização, na cobrança do cumprimento das medidas acordados em protocolos da UFPI, assim como, fará a crítica sempre que necessário quando inferir que a educação e a vida de todas as pessoas da comunidade acadêmica estão em risco.
Por um retorno de atividades seguro, consciente e colaborativo!