A Diretoria da ADUFPI vem, por meio desta nota, apresentar uma avaliação crítica acerca de um conjunto de ações e estratégias que têm marcado a atual gestão da Universidade Federal do Piauí. Reconhecemos que toda administração se constrói em meio a desafios e constrangimentos, sobretudo no cenário de crônico desfinanciamento das universidades públicas. Contudo, consideramos fundamental destacar elementos que configuram uma estratégia de gestão que nos preocupa em diversos aspectos, especialmente no que diz respeito à autonomia universitária e ao modo como a comunidade acadêmica vem sendo inserida – ou não – nos processos decisórios.
Em primeiro lugar, temos observado uma priorização crescente das parcerias externas como estratégia central de gestão. É inegável que a universidade deve dialogar com diferentes atores e instituições, mas preocupa-nos a lógica em que tais parcerias passam a ser vistas quase como substitutivas ao financiamento público regular, naturalizando o desfinanciamento da universidade. Ao invés de constituírem um campo de expansão da pesquisa, da extensão e da inovação docente, essas parcerias, em muitos casos, têm sido convertidas em um mecanismo de sobrevivência institucional, o que pode fragilizar a autonomia universitária a médio e longo prazo.
Nesse mesmo sentido, é visível uma midiatização das ações da gestão, em que o destaque dado aos parceiros externos tem ofuscado o devido reconhecimento ao trabalho de docentes, discentes e técnicos. A universidade não pode pedir a colaboração de seus professores e, ao mesmo tempo, deixar de valorizar publicamente as contribuições que têm sustentado a vida acadêmica. A ênfase na conquista de “likes” ou em estratégias de comunicação não pode se sobrepor ao reconhecimento interno e concreto daqueles que mantêm a universidade viva.
Outro ponto de preocupação refere-se à captura de reivindicações de entidades representativas da comunidade universitária, como a ADUFPI, SINTUFPI e o DCE. O caso da audiência pública sobre segurança é exemplar: a iniciativa foi positiva, mas seus desdobramentos têm ocorrido a portas fechadas, sem a efetiva participação dos segmentos envolvidos. A promessa de participação não pode se restringir a momentos simbólicos ou a etapas iniciais de processos. Participação democrática significa estar presente e ser ouvido nos momentos decisórios centrais, caso contrário, trata-se apenas de uma abertura figurativa, sem real incidência.
Entendemos ser necessário refletir com clareza sobre quais pilares de gestão a atual administração deseja sustentar. É imprescindível que se cumpra o compromisso assumido em campanha: ampla participação e inclusão da comunidade universitária nos processos decisórios. Reafirmamos que a universidade não é uma ilha, e que as parcerias e cooperações são parte de sua dinâmica. No entanto, transformar tais mecanismos no eixo central da sobrevivência institucional envia um recado perigoso ao governo federal e à sociedade: o de que o financiamento público pode ser substituído pela captação de recursos externos. Essa lógica ameaça, em última instância, a natureza pública e gratuita da universidade.
Ademais, permanecem questões internas não solucionadas e que afetam diretamente a vida cotidiana da comunidade acadêmica, como:
- Problemas relacionados à carreira docente e ao pagamento de progressões;
- Precarização do atendimento e do suporte administrativo;
- Dificuldades resultantes da ausência de servidores em setores essenciais.
É urgente que a gestão volte seu olhar para essas questões centrais, pois são elas que garantem a qualidade da vida universitária e o direito ao trabalho digno de professores e técnicos.
Por fim, destacamos a importância da transparência e do acesso à informação, princípios indispensáveis a uma gestão democrática. A recente transmissão de eventos comemorativos demonstra que já existe estrutura para viabilizar a transmissão das reuniões dos Conselhos Superiores e a publicização prévia de suas pautas. Essas medidas são fundamentais para assegurar a transparência prometida em campanha e dar concretude ao compromisso de democratizar a gestão universitária.
O que está em jogo é a universidade que queremos construir, os caminhos que estamos trilhando e, sobretudo, a possibilidade de mantermos uma gestão que seja, ao mesmo tempo, democrática, participativa, crítica e comprometida com sua comunidade.
É nesse espírito que apresentamos estas considerações à comunidade e à atual gestão, confiando que elas possam contribuir para uma reflexão coletiva sobre os rumos da nossa instituição.
Diretoria da ADUFPI