Um ano de trabalhos remotos:
análise de situações docentes na UFPI

A ADUFPI junto às suas Regionais tornam público carta manifesto.

A Associação dos Docentes da Universidade Federal do Piauí e suas Regionais, em cumprimento dos encaminhamentos deliberados na última assembleia extraordinária com a categoria, no dia 19 de março de 2021, em que votou favoravelmente pela criação de uma comissão para a organização de um documento apresentado pelo Prof. Nilton Ferreira como uma carta-manifesto, no qual foi aprovada em Assembleia, e acrescida de novas questões não contempladas, a fim de realizar um diálogo com outras categorias e sintetizar propostas a serem encaminhadas à Administração Superior.

Para tanto, o sindicato, torna público o manifesto que analisa a situação de trabalho docente no âmbito da Universidade Federal do Piauí após um ano de trabalho remoto no contexto de pandemia. O texto foi lido e aprovado em assembleia com a categoria.

Confira a carta manifesto aqui:

Estamos próximos de completar um ano de afastamento das atividades presenciais devido a pandemia de COVID 19. Neste período, tivemos que nos reinventar profissionalmente. Nós, docentes do ensino superior, descobrimos plataformas de atividades letivas que já existiam, mas pouco eram utilizadas. Tudo bem. Sabemos que não adianta uma e um docente adotar certa novidade tecnológica se ela “não pega” como prática cultural. Quando o fazemos parece ao rupo estudantil apenas mais uma “invenção” de professora e professor e acabamos entrando no velho ciclo modístico.

Desta vez, porém, a pandemia nos forçou a embarcar nestas tecnologias. Navegar em Meets, Zoom’s, RNP’s, tornou-se necessário. Gravar aulas, assumir uma relação diferente com a didática à distância e impessoal, mediada por um aparelho. Fomos forçados a ampliar nosso vocabulário para o “informatiquês” e nosso conhecimento nesta área nos levou do jurássico para a “Matrix” em sua melhor essência hollywoodiana.

E um ano se passou. E neste momento temos outro aprendizado: avaliar nossa experiência e estruturar nossas ações. Afinal somos a academia das ciências. É nossa tarefa primordial, nossa missão, este exercício.

Em primeiro lugar queremos destacar que nós, enquanto instituição acadêmica por excelência, estamos desorganizados para enfrentar pandemias. Faltou-nos o princípio básico da ciência: uma coleta de dados organizada, orientada e de forma ampla, para fazermos esta avaliação. É evidente que quando se trata de uma ação coletiva e de interesse geral, pecamos por apresentar uma cultura individualista de pesquisa. Foram muitas as pesquisas a respeito, mas ficou no velho sistema “pesquisa de fulano” ou “pesquisa da saúde” e nada de uma pesquisa sobre a vida na pandemia. Traduzindo: faltou uma pesquisa com amplitude geral orgânica.

Dentro dos princípios científicos de classificação e ordenamento de áreas de estudo e abordagem, mas interligada, holística e orgânica, como é o ser humano. Em nossa instituição, a UFPI, por exemplo, até hoje não temos um diagnóstico preciso e confiável sobre a situação das pessoas que fazem a docência e estudantes quanto ao acesso à rede internet de conexão. Destaque para o fato de estarmos em pleno século XXI, isso deveria existir independente de pandemia. Estamos falando de conexão à informação, à dados e pesquisas. Isso sem contar que nesta pandemia nossa instituição física, pelas contingências “desapareceu”. Restou o SIGAA e o nome que congrega a comunidade.

Os outros componentes estruturais de ação são um amontoado de equipamentos pessoais (tanto de quem presta o serviço na técnica administrativa, como serviço público e as pessoas terceirizadas, a docência e estudantes), que podem ser um obstáculo a mais para todo o processo que se impôs à universidade. Precisamos considerar quem presta o serviço técnico à universidade e quem ocupa o lugar na terceirização. Quem atua como serviço da UFPI, quem está ali por meio de um concurso, também não foi devidamente preparado para enfrentar o contexto pandêmico. Cada setor fez de um modo ou até mesmo não fez, ficando a pessoa servidora pública da UFPI à mercê do que decidem os setores, departamentos e coordenações: se manda trabalhar remotamente ou presencialmente.

Remotamente, enfrentando os mesmos desafios da docência: trabalhar por sua conta e risco, misturando as ambiências de trabalho e familiar, portanto sem nenhuma oportunidade de descanso e presencialmente enfrentando os riscos da pandemia.

Já as pessoas terceirizadas, muitas estão trabalhando no ambiente físico da universidade, com salários atrasados, sem receber nada para o deslocamento, nem ticket alimentação. E a UFPI age como se não fosse sua responsabilidade o trabalho escravo ali empreendido.

Nós, classe trabalhadora da universidade, independente do cargo ocupado, estamos “bancando” este custo com nossos equipamentos, e infraestrutura (luz, água, custo de transmissão, compra e manutenção de software e hardware) e do espaço físico que invadiu nossa intimidade. A instituição que zela pela ciência sequer tem dados a respeito do que se passou para que funcionasse neste novo ano. Pior, sequer aceita conversar, quanto mais planejar uma ação de enfrentamento a este problema. O neoliberalismo chegou e dominou nossas mentes iluminadas! E se nosso equipamento estragar no meio do semestre e não tivermos recursos para o conserto ou para um novo, o que faremos? Vamos para a universidade e usamos o equipamento lá. Mas isso é um risco na pandemia. As salas não são individuais e destaco que, no campus de Picos – Piauí, muitas professoras e professores nem sala têm, quanto mais um computador para cada docente, e em condições de realizar aulas remotas (com câmeras, microfones, software’s, etc) sem contar outros problemas de risco de contágio e de infraestrutura (banheiros limpos, lanchonetes, segurança, etc). Então não temos como ir para universidade. Ficaremos com a sensação de que a falta de aulas é nossa culpa e a sensação de ingratidão, como todo servo que tem certeza de que o “patrão” lhe faz um favor de lhe deixar trabalhar e cuidar dele. Nossa luta é grande!!!

A começar por nós mesmos. Temos que nos desintoxicar desta cultura neoliberal que nos invade sorrateiramente usando, nas palavras do “cão, do tinhoso” no filme Advogado do Diabo, o pecado que ele mais gosta nos humanos: a vaidade.

 

2- Foi recorrente neste um ano a frase “estamos parados, sem trabalhar, temos que voltar a dar aulas, mesmo que remotas”. Fico estarrecido quando escuto de uma professora ou de professor de uma Universidade Federal brasileira esta visão de sua profissão. Quando diz isso, certifica que sua única função é dar aulas (reproduzir conhecimento). E quando é lembrado que faz pesquisa e extensão, trata como se isso não fosse trabalho. Ora, uma pessoa da docência universitária produz conhecimento quando pesquisa. Na sala de aula, ela e ele têm por função de discutir pensamento crítico, matéria prima básica para produção de conhecimento. Ficou evidente que nossa função de produzir pensamento crítico está profundamente comprometida quando não temos nem consciência profissional. Viramos técnicas e técnicos, no sentido lato. Citando Gaston Bachelard[1], não atingimos o verdadeiro espírito científico[2], paramos no segundo estágio, o da alma professoral[3], que cumpre sua carga horária de trabalho como qualquer outra pessoa da classe trabalhadora. E nossa instituição como qualquer moderna empresa neoliberal, transfere seus custos para quem “colabora” como sociedade filantropa. A Universidade durante a pandemia evidenciou seu caráter sistêmico, no sentido da tese de Hannah Arendt de banalização do mal.

[1] BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. Citações abaixo estão na Pág 08

[2] Enfim, a alma com dificuldade de abstrair e de chegar à quintessência, consciência científica dolorosa, entregue aos interesses indutivos sempre imperfeitos, no arriscado jogo do pensamento sem suporte experimental estável; perturbada a todo o momento pelas objeções da razão, pondo sempre em dúvida o direito particular à abstração, mas absolutamente segura de que a abstração é um dever, o dever científico, a posse enfim purificada do pensamento do mundo!

[3] Alma professoral, ciosa de seu dogmatismo, imóvel na sua primeira abstração, fixada para sempre nos êxitos escolares da juventude, repetindo ano após ano o seu saber, impondo suas demonstrações, voltada para o interesse dedutivo, sustentáculo tão cômodo da autoridade, ensinando seu empregado como fazia Descartes, ou dando aula a qualquer burguês como faz o professor concursado (1. Cf. H. G. WELLS. La Conspiration au grandjour. Trad., p. 85,86, 87)

3- As relações tecnológicas têm nos afetado como nunca antes. É o que percebo em mim e nas conversas com outras pessoas envolvidas. Aula remota cansa. Minha impressão empírica envolve alguns aspectos que mudaram.

O fator ambiental: nosso organismo é cheio de manias e viciado em rotinas. Quando chegamos a determinados ambientes pré estabelecidos culturalmente para determinadas práticas, inconscientemente nosso cérebro reptiliano já nos prepara para se comportar nesse ambiente. É algo do tipo, não paramos para pensar em respirar, respiramos; não pensamos em fazer digestão, digerimos. São as ações do sistema nervoso parassimpático (não conscientes). Nas aulas presenciais, mantínhamos o costume de adaptação aos ambientes específicos, ao chegar na sala de aula, assumimos a persona docente. Ao chegar em casa, relaxamos e assumimos uma persona caseira. Com a pandemia, nosso cérebro arcaico (reptiliano) sofreu um bug. O piloto automático está em pane com funções não adequadas a ambientes. Nosso relógio biológico entra neste processo também. Não conseguimos mais concentrar, nem relaxar. E isso nos consome mais energia que o normal. Sem contar que num ambiente de sala de aula estamos usando os cinco sentidos sensoriais em uma mesma atividade.

Na atividade remota, estamos usando visão e audição na tela de transmissão e isso requer uma redistribuição energética para obtermos o mesmo resultado de uma aula presencial. Por isso fica sempre aquela sensação de que a aula não foi boa, que faltou algo. É claro que sempre vai faltar. Vai faltar o velho e bom “calor humano”, indefinido, mas sentido pelo mundo acadêmico. E este cansaço tem sido relatado pelas e pelos discentes também. Mas e as pesquisas sobre isso? Mais um indício de que perdemos nosso princípio científico. Nossa instituição e colegas pensam como toda empresa neoliberal que se preze, acha isso conversa de “va.ga.bun.do.” Muitos acreditam que podemos ter carga horária normal, três disciplinas no mínimo; 50 discentes tranquilo!! A falta de pesquisa é também um indício desta postura institucional. Afinal, pesquisas podem prejudicar os lucros. No nosso caso a falta de investimentos. O método Lancaster de aprendizado está de volta, mas com roupagem tecnológica e à distância.

Em se tratando apenas do ensino, adotando a ideia de que a docência é feita por professoras professores (e já sabemos que não se trata apenas disso), podemos elencar experiências oriundas da nova forma de ensino (remota).

Na realidade, a UFPI tem realizado capacitações pontuais em palestras e seminários. Mas ficam muito aquém do necessário para atuação docente de forma segura que não comprometa a qualidade de ensino. O que pode ser percebido, ao final do período 2020.1 é que muitas dificuldades permanecem e embora a docência tenha colhido dados para um novo ciclo (período 2020.2), há de se concordar que existe um longo caminho a trilhar. O domínio das tecnologias de informação e comunicação (TICs) é apenas o primeiro degrau a ascender em uma jornada longa. De passagem, vale ressaltar que os próprios meios de comunicação usados na prática docente sofreram e ainda sofrem um processo de atualização, implementando novas funcionalidades e adequações no sentido do aperfeiçoamento necessário aos usos aos quais vem sendo submetidos.

As novidades são para todas as pessoas. E como perceber os detalhes que dificultam o domínio e o acesso a este processo? Turmas com 19 alunos onde 15 acessam aulas por smartphone. Qual a qualidade de uma apresentação de slides nesta situação? Discentes que vão a locais públicos de wifi disponível, por não ter acesso em casa (e muitas vezes falta de acesso até à rede elétrica). Ou então que acessam em casa, onde o cômodo é compartilhado com familiares que têm outras atividades. Onde estão os dados sobre isso? Em um ano, qual foi o diagnóstico?

Tratando da forçosa autonomia que a universidade impõe à professora e aos professores e estudantes da área da saúde nos ajudar a compreender este fenômeno. Neste último ano, a construção do saber em saúde sem o contato humano em decorrência da ausência dos recursos mínimos necessários para o deslocamento e permanência da docência e estudantes nos campos de prática – EPIs, testagem, seguro saúde, transporte seguro, alimentação, vacina – somam-se ao desgaste e descapitalização sofridos com os esforços para a aquisição dos recursos tecnológicos para as aulas teóricas.

Sem um plano de retorno seguro que ofereça as condições necessárias para um ensino-aprendizagem de qualidade, a universidade, como um passe de mágica para a solução da sua incapacidade de gerir recursos, concedeu às coordenações de curso a autonomia para decidir sobre o modelo de ensino a seguir, desconsiderando que, como professoras e professores, não assumir a responsabilidade institucional pela aquisição de quaisquer equipamentos ou insumos.

Sob pressão de estudantes que, sem aulas práticas e estágios presenciais, encontram-se presos na graduação há um ano quando poderiam somar-se como profissional da linha de frente no combate a pandemia que nos assola, e pela falta de recursos necessários para prover o mínimo de segurança para o retorno presencial, coordenações e docência dos cursos da saúde se veem encurraladas.

Ciência e saúde necessitam de investimentos. A Universidade pública não pode simplesmente delegar a estudantes e quem colabora a função de buscar recursos para sustentá-la, deve sim cumprir com o seu dever de fomentar o saber arcando com o que for necessário para tal.

É também importante mencionar que na prática docente, muitas adaptações ainda estão ocorrendo. Em forma de exemplo pode-se mencionar os processos avaliativos. Esses, em razão da própria adoção (necessária) das TICs, voltaram a um estágio de experimentação, onde quem faz a docência exercita sua criatividade para elaborar formas de avaliação e colocá-las à prova nesse novo ambiente de ensino. Por um lado, isso é bom, pois voltamos a exercer a pesquisa empírica (risos).

Em uma experiência pessoal é possível perceber o aumento de trabalhos “similares”, que sugere que a rede de comunicação entre estudantes é facilitadora de comunicação, entretanto não é usada de maneira a contribuir com o processo de formação do pensamento crítico. Fato que também recorre ao uso do formato EAD.

Em mais uma experiência é evidente o prejuízo no nível de entendimento dos estudantes nas explanações síncronas (hoje obrigatórias a 50% da carga horária), por razões diversas:

  • Falta ou falha temporária na conexão de internet de professora e professores e de estudantes;
  • Aparelhos inadequados, para acompanhamento dos elementos gráficos expostos nas explanações;
  • Discente executando atividades paralelas no momento da explanação (que não é detectável pela e pelo docente no ensino remoto);
  • Falhas ou indisponibilidade temporária dos serviços de conexão com estudantes (RNP, Meet, etc);
  • Falhas no hardware dos equipamentos utilizados (cada professora e professor, assim como cada estudante estão sujeitos a seus equipamentos: computadores, modems, telefones etc. para participarem de suas atividades e da forma como o modelo de ensino é implementado é pressuposto que cada pessoa poderá arcar com os prejuízos ou danos desses equipamentos).

Se compararmos o ensino remoto (adaptação do ensino presencial com uso de TICs) ao EAD (ensino criado para o formato a distância) adotado na própria UFPI, podemos observar a diferença estrutural:

EAD

ENSINO REMOTO

Há quem faz a docência em forma conteudista (responsável pela elaboração do conteúdo para aplicação no formato EAD).

Cabe a professora e ao professor determinar a melhor forma de levar conhecimento ao rupo estudantil.  

A professora e o professor da sala de aula regular são responsáveis pela adaptação do conteúdo a ministrar.

Há professora e professor como formação (responsável pela orientação de estudo e a aprendizagem, sendo correspondente a função pedagógica da docência no ensino presencial;

A professora e o professor da sala de aula regular são os responsáveis pela orientação, estudo e aprendizagem.

Á monitoria, podendo ser mais de uma pessoa: muito importante em certos tipos de EAD, especialmente em ações de educação popular com atividades presenciais de exploração de materiais em grupos de estudo.

Não existe no ensino remoto. A atividade é acumulada pela própria pessoa da docência.

Há tutoria, não necessariamente responsável pela formulação do conteúdo do curso, mas é a figura de autoridade que auxilia estudantes naquilo que for necessário e que garante que o material utilizado no curso está adequado às condições de aprendizagem dos alunos.

Sua principal missão é engajar estudantes EAD e manter sua motivação, respondendo prontamente a dúvidas e questionamentos e apresentando soluções para resolver os problemas apresentados.

Na forma de educação remota de 2020.1 tivemos a obrigatoriedade de monitoria, que muitas vezes não estava presente nas aulas síncronas, pois ter que assistir aula em outra turma.

E mesmo que auxilie, tem dificuldades com equipamentos e conexão da mesma forma da professora e do professor. E não tem um treinamento, domínio e autonomia para auxiliar da mesma forma, que uma tutoria treinada e orientada para tal faria.

Na EAD são oferecidas várias turmas em localidades distintas divididas por polos. Assim sendo, há tutoria para cada uma das turmas.

No caso do ensino remoto, a professora e o professor são responsáveis somente por uma turma (ou mais se houver mais de uma oferta da disciplina) a ministrar.

O grupo estudantil está em diferentes localidades, e sem contato (atividades) presenciais)

Estudantes de EAD fez a escolha por esta modalidade. Havendo assim a predisposição em possuir e utilizar o equipamento para as atividades do curso. Existem disciplinas formativas nos cursos EAD que auxiliam no processo de adaptação para o formato.

Estudantes escolheram o ensino presencial e, portanto, não há preparo e nem predisposição para atividades remotas.

Há um modelo geral pré definido quanto a forma de avaliação e percentuais para avaliação do estudante em EAD (Provas x 60%, Atividades On-line x 20% e Trabalhos x 20%)

O modelo ainda continua o mesmo do presencial, e não houve treinamento ou esclarecimento por parte da instituição sobre como proceder. O risco de falseamento de resultados é constante.

Com a pandemia, os encontros presenciais foram substituídos por atividades síncronas. Essas atividades ocorrem apenas em alguns finais de semana (sendo em geral de 2 a 4 encontros virtuais de acordo com a disciplina e a carga horária). As atividades assíncronas são ampla maioria nesse modelo.

A regulamentação de atividades síncronas e assíncronas em distribuição percentual é muito superficial e deixa a professora e o professor em uma situação de decisão onde não há uma discussão aprofundada destas atividades, de como planejar e distribuir conteúdos adequados a cada modalidade. Não houve uma discussão aprofundada do que são materiais didáticos assíncronos e sua adequação para cada caso.

Em geral, a pessoa da docência como formação (e suas tutorias) atuam em uma disciplina por vez. Embora num período possa ministrar mais de uma disciplina, elas acontecem uma depois da outra (sem concomitância).

A preofessora e o professor devem ministrar concomitantemente suas disciplinas de acordo com as ofertas.

Dito isso, acredito ser necessária uma ampla reflexão e ações aprofundadas que minimizem as lacunas apontadas e, assim, consigamos avançar num processo com a qualidade educacional que a sociedade acredita e espera da nossa instituição.

Neste pequeno ensaio, generalizado sobre métodos e modalidades de ensino, é evidente a situação de “gambiarra” que passamos neste um ano de quarentena. Se levarmos em conta que estamos numa instituição que se propõe a ser um centro de excelência na busca de soluções para os problemas da sociedade, esta situação fica mais deplorável ainda. Estamos a um ano improvisando aulas presenciais a distância. A verdadeira distância que se evidencia é da visão pessoal de nossas lideranças, acadêmicas e políticas, da realidade que se impõe no momento. Também à distância da consciência de classe e de comunidade da sociedade, incluindo as Universidades. Se utilizarmos o rigor das ciências para esta análise, levando em consideração as particularidades de cada curso, de cada região, de cada cultura regional, poderemos ter motivos para nos envergonhamos de nossa geração, por ter sido negligente com nosso compromisso com a sociedade e principalmente, com nós mesmos, sobre nosso compromisso profissional.

Hannah Arendt em seu único texto em que trata especificamente da educação nos fala que toda crise é oportunidade para crescer. E só crescemos quando nos conhecemos, quando saímos da sombra de nossas vergonhas, que podemos crescer, reformando o que nos causa crise.